quinta-feira, 26 de abril de 2012

FOREVER YOUNG

“Não Dani, você não pode ficar lendo esses blogs porque eles fazem você acreditar que precisa de tudo aquilo. Eles incentivam um consumismo desenfreado” “Ah, fala sério! Você gosta dessa música? É de uma boy band! Isso é tão adolescente” Estas são frases que ouvi recentemente e para variar, me fizeram pensar sobre algo que já venho refletindo desde a Palestra da Márcia Tiburi – “Rock and Roll – A invenção da adolescência entre a indústria e a angústia cultural”. À primeira vista, pode até parecer que as frases não tenham a ver com a palestra em si, mas a verdade é que tem tudo a ver. Estou com 35 anos e freqüentemente o assunto da idade vem a tona, como se passar dos 20 fosse uma vergonha total, diagnóstico de doença terminal ou coisa parecida e de certa forma, é quase isso. Sei disso porque mesmo sendo capaz de refletir sobre o assunto e saber que no fundo toda a indústria cultural gira em torno da venda de conceitos e produtos que nos façam acreditar que somos jovens para sempre,eu me vejo fazendo parte do jogo. Forever Young, é o sonho da maioria das pessoas, ou pelo menos, da maioria das mulheres que conheço. Seria redundante dizer que sofro de uma síndrome de Peter Pan gravíssima, mesmo assim, é muito difícil escapar de tudo isso. Entre minhas resoluções de ano novo, a mais importante era a de me tornar uma pessoa mais vaidosa, me cuidar mais, aprender a me vestir melhor e no fundo tudo não passa obviamente de uma tentativa de voltar no tempo ou enganá-lo de alguma forma. Errado? Fútil? Acho que não, porque é incrível o que estar de bem com sua aparência faz por sua auto-estima e como alguém pode se sentir mais confiante por estar com a auto-estima no lugar. No entanto, a questão é justamente que, para nos sentirmos bem conosco, nós estabelecemos parâmetros que estão ao nosso alcance, ou seja: celebridades que vemos todos os dias na TV, modelos de revista e por ai vai... Só que estas pessoas não são reais e acabamos caindo na armadilha de acreditar que só seremos admiradas se nos parecermos um pouco com o que é nos vendido como belo pela mídia. Tudo muito óbvio e mesmo assim, muito difícil de escapar. Por que me preocupo? Porque com 35 anos e mãe, sinto que certas atitudes são esperadas pelos outros no que diz respeito ao meu comportamento, jeito de vestir e não sei se algum dia vou me “encaixar” no perfil , simplesmente porque não me vejo como uma mãe de 35 anos. A maior parte das minhas amigas são mais jovens e eu continuo gostando de sair com elas, dançar, me divertir e principalmente, no que diz respeito à moda, a moda é feita para adolescentes, não para mães! Tá, eu não ligo tanto para moda, mas o fato é que todas as roupas que gosto de vestir, tudo que gosto de usar tem um perfil adolescente. Big deal? Sim! Você ainda não percebeu que não se trata de moda e sim do fato de realmente acreditarmos que não existe nada mais belo, nada mais sexy, nada mais apropriado do que ser JOVEM, mais precisamente, adolescente. A constante busca pela fonte da juventude vai acabar conosco. Não sei se alguém consegue lidar com isso de uma forma positiva. Eu definitivamente não consigo. Quero parar o tempo. Começa com uma música que é seguida de uma atitude, que gera um estilo que é sempre, sempre adolescente. Procuro estilos para me vestir mais adequadamente e tudo que eu gosto é usado por meninas muito mais novas do que eu e eu realmente acredito que suas roupas vão ficar ótimas em mim. Talvez eu esteja sendo ridícula. A Márcia Tiburi explica na palestra que a adolescência foi inventada no período pós guerra, quando os jovens passaram a ficar mais tempo na casa dos pais. Até então, a criança saia da infância, casava e era adulto. Hoje em dia, a adolescência tem durado cada vez mais. Para os gregos, um homem só era considerado adulto após os 30 anos. Números à parte, gosto dos elogios que recebo quando uso determinada roupa. É bom demais, mesmo sabendo que no fundo , eu esteja agindo exatamente como a tal da indústria cultural espera que eu aja. Um saco, porque mesmo me sentindo um pouco fantoche, é inegável que queremos nos sentir admirados e infelizmente, elogios não virão se eu jogar tudo para o alto e resolver virar punk, amaldiçoar o sistema. Eu estou no sistema, caramba! É , assim como a maioria das mulheres, preciso de aprovação! Não basta olhar no espelho e gostar do que vê, é preciso que todo mundo reafirme sua escolha. Go figure! Sei disso, me preocupo com o rumo das coisas e mesmo assim , não pretendo mudar. Saco! Não seria bem mais fácil simplesmente ser ignorante e aceitar tudo sem questionar? Pelo menos não estaria neste conflito estúpido. Bom, esta é a palestra: http://www.cpflcultura.com.br/2010/10/14/rock-and-roll-%E2%80%93-a-invencao-da-adolescencia-entre-a-industria-e-a-angustia-cultural-chuck-berry-e-elvis-presley-%E2%80%93-marcia-tiburi-e-fernando-chui-2/comment-page-1/#comment-6102

quarta-feira, 11 de abril de 2012

INSTINTO PRIMITIVO


“Vivemos num mundo doente”, cantou Renato Russo. Ele sabia das coisas. A cada dia eu me vejo cercada por mais pessoas queridas que estão deprimidas e eu espero de coração que este depoimento possa fazer alguma diferença em suas vidas, pois eu sei por experiência do que estou falando.
Bom, uma das coisas que mudou minha relação com a minha doença foi uma frase que uma amiga me disse, sem maiores pretensões e talvez se deva a ela o fato de eu estar viva: “Nosso instinto mais primitivo é o de sobrevivência”. Tá, e daí? Daí que o soldado lá no front de guerra e a mulher que não tem como alimentar seus filhos continuam lutando por suas vidas mesmo que aparentemente não valha a pena. O suicida que sobrevive a uma tentativa sabe bem o que é se arrepender e tentar voltar atrás no último segundo, porque nossos corpos foram “programados” para sobreviver. Ah, mas ninguém quer sobreviver apenas. De fato, mas se você entender que seu instinto mais primitivo é o de sobrevivência, irá perceber então que querer morrer vai totalmente contra as leis da natureza, ou seja, se você estiver convencido de que a morte é a sua melhor opção, pense novamente: VOCÊ ESTÁ DOENTE! Se o seu cérebro tem a certeza de que nada mais vale a pena, ele está dizendo que precisa de ajuda.
Depressão é uma doença que talvez não tenha cura, mas tem tratamento. Como toda doença, talvez você opte por soluções mais comuns como ir ao psiquiatra, tomar remédios e quando estiver melhor, esperar que a depressão volte e tudo recomece. Sim, ela pode voltar e sim, você pode acabar acreditando que não foi mesmo destinado a comer uma fatia daquele bolo que as pessoas chamam de felicidade. E aÍ? Voltamos ao fundo do poço, aquele lugar onde não existem perspectivas e onde a morte é tão sedutora que flertar com ela pareça até divertido. Já passei por isso e continuo passando!
E o que eu quero dizer? “Poxa, não vou ser feliz nunca e vou ter que conviver com isso?” Sim e não. Primeiro, a felicidade é relativa e pode depender muito de como você percebe a sua vida: moro em uma cidade com praia, adoro o mar, mas raramente vou à praia contemplá-lo, porque ele está sempre ali, disponível. Para algumas pessoas, ver o mar é um sonho e quem consegue realizá-lo não poderia experimentar felicidade maior. Sei que quando estamos lá no fundo pouco nos importamos como quantas crianças irão morrer de fome hoje na África, quantas pessoas estão morrendo de câncer, quantas mães perdem seus filhos em acidentes... Você quer mais é que o mundo exploda e de preferência, você com ele.
Se você puder tentar algumas coisas que funcionaram comigo, pode ser que sua situação não melhore em nada, mas eu garanto que não vai ficar pior! Você está no fundo do poço, lembra? O único caminho agora é para cima. Vamos às atitudes que me ajudam a sair da cama de manhã, mesmo que eu esteja com aquela sensação de nunca conseguirei ser feliz novamente ( lembrem-se que sou bipolar, por isso minha referência de felicidade é o pico de euforia que por prudência, seria melhor não voltar a ter):
• A primeira coisa que mudou foi realmente entender que querer morrer não é o desejo real de uma pessoa sã, ou seja, aceitar que estou doente;
• Lembrar de todas as mazelas do mundo e perceber que estou longe delas. Pensar nas tragédias do mundo de forma que até minha depressão fique com vergonha ( mas não pense muito , do contrário ficará ainda mais deprimido!);
• Entender que existem pessoas que me amam realmente e isso se deve a alguma coisa. Mesmo que eu não saiba exatamente o que, sei que sou importante para alguém ou que toquei alguém de alguma forma, por isso, minha vida também é importante para esta pessoa ( você com certeza é muito importante para mim!);
• Manter a cabeça ocupada com coisas úteis, produtivas, positivas! CORPO SÃO, MENTE SÃ! CABEÇA VAZIA, OFICINA DO DIABO! Fato! Fazer exercícios físicos é extremamente importante por conta das endorfinas e tal, mas sem ocupar a cabeça, sua mente vai estar sempre disponível para ser ocupada com pensamentos depressivos, obsessivos, compulsivos e por aí vai! Estude, leia bons livros, assista filmes, reflita sobre eles! Manter a mente ocupada ajuda muito a tirar o foco de tudo aquilo que você não tem e gostaria de ter;
• Tem uma religião? Ótimo! Eu não tenho, mas muitas das coisas que o budismo prega fazem muito sentido. “Toda dor vem do desejo de não sentirmos dor” – Renato Russo mais uma vez – Essa história de estarmos sempre querendo algo é uma das maiores fontes de angústia que existe. Você só quer algo porque sabe que outra pessoa tem e lhe parece feliz assim. Se tivesse crescido em um mundo onde a sua vida fosse o padrão, não teria tanta certeza de que a grama do vizinho é tão mais verde. Estamos sempre querendo outra vida, outra opção e talvez não exista outra opção a não ser o que temos para o momento e com certeza você TEM muitas coisas que outras pessoas também dariam tudo para ter, mas como está aí, ao alcance das mãos, você não percebe o quanto são importantes. O budismo fala muito à respeito de lidar com o “querer”. Ainda não aprendi, mas espero chegar lá.
• Chegou à conclusão de que não vai mesmo ser feliz, de jeito nenhum? Acontece e pode ser que nunca vá se sentir feliz da forma como imagina, mas já que está aqui mesmo, que tal então tirar o foco de você (já que por enquanto a sua vida não tem jeito mesmo) e pensar que existem outras pessoas no mundo que ficariam muito felizes com um pouco da sua atenção, do seu tempo, do seu amor? Conhece alguma criança? Idoso? Tem filhos? Sobrinhos? Estas pessoas também não pediram para vir ao mundo, mas se você se dedicar a fazer alguém feliz, pode ser que no caminho você consiga ficar feliz também e se não conseguir, ao menos você ajudou o mundo a ser um lugar mais feliz, menos doente. Por que não? Se não fizer bem, mal não vai fazer.
• Tenha um projeto (Tem me ajudado muito). Se envolver com algo que lá no fundo você lembra que achava interessante, mesmo que agora você não tenha interesse por nada, vai ajudar a tirar o foco dos problemas e direcionar o pouco da energia que sobra para produzir ou alcançar alguma coisa.
• Não deixe de manter contato com os amigos, mesmo sem a menor vontade de socializar. Eu me obrigo a fazer coisas divertidas mesmo quando não vejo a menor graça em nada, simplesmente porque assim eu consigo enganar um pouco o meu cérebro.É um jeito de dizer: “Hei, depressão, sei que você está aí e eu não dou nem tchuns pra você!”
• PARE DE BUSCAR A FELICIDADE COMO SE ELA ESTIVESSE ESCONDIDA EM ALGUÉM OU ALGUM EVENTO! Felicidade é um sentimento tão relativo e subjetivo que muitas vezes as pessoas conseguem o que queriam e não ficam felizes por isso, simplesmente porque nem sabem qual é a cara que a felicidade tem ou o gosto. O que temos é agora, então se você não consegue sorrir agora, ao menos lembre-se que você É o motivo do sorriso de alguém que esta pessoa precisa de você e gostaria muito de te ajudar a ser feliz ( eu estou entre elas). Use a neurolinguistica ( que eu chamo de auto-convencimento): nós somos capazes de convencer nossos cérebros de qualquer coisa. Conseguimos nos convencer de que somos uma merda, não servimos para nada, somos horríveis e também somos capazes de nos convencermos do contrário. Mais uma vez, se você não consegue, ao menos tente, diga para você mesmo o quanto as coisas estúpidas da vida são o máximo. Fale para você mesmo o quanto o sorriso de uma criança não tem preço, repita várias vezes, porque mesmo que seja uma mentira, lembre-se que uma mentira contada 1.000 vezes passa a ser verdade. Talvez tudo isso seja auto-ilusão, mas seu cérebro não precisa saber e você pode acabar se convencendo de que a vida realmente vale a pena e de no fundo, lá no fundo você é feliz.
Se nada disso ajudar, sei que não vai piorar. Caso ajude, passe a mensagem adiante, Quem sabe não caminhamos juntos para um mundo menos cinza, não é mesmo?