quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Papo Furado


O tema da semana no curso que estou fazendo, é crônica. Eu achava que crônica era minha praia, até que percebi que escrevo contos melhor do que crônicas. Mesmo assim, eu sou apaixonada pelo estilo, principalmente quando essas tem um tom escrachado, uma análise mais sarcástica dos fatos cotidianos.
Walcyr Carrasco está entre meus favoritos. Me identifico com tudo que ele escreve e esta crônica eu li no semestre passado, mas não tinha achado até então.
Bom, aqui está. É ele quem conta a história, mas poderia ter sido qualquer um de nós, por isso é tão sensacional.
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Estou no dentista. Boca escancarada. Motorzinho ligado. Ele desanda a falar. Conta do fim de semana. Pergunta:

– Você também já foi para Ilhabela? Em que pousada ficou?

– Grrrrrrrr – respondo.

– Cuidado, não feche a boca.

– Grrrrrr – continuo.

Mais perguntas e novos grunhidos. Quando se afasta um segundo, tento dizer:

– Faz tempo que não vou para Ilhabela, eu...

– Não feche a boca!

Corre, alucinado, para secar meu dente. Parece que cometi um crime. Não há nada mais injusto. Ele fala, fala, conta a vida, aventuras... e sou obrigado a grunhir! Fico pensando: por que dentistas têm a mania de bater papo, se o paciente não pode retrucar?

Motoristas de táxi também adoram falar. Dedicam-se a dois assuntos preferenciais: o tempo e o trânsito.

– Esfriou.

– Hum, hum – respondo.

– Está tudo parado.

– Hum, hum.

Abro um livro, para me refugiar. Que adianta? Inevitavelmente, o taxista continua:

– Agora pouco passei por aqui e a rua estava livre...

Depois de milhares de conversas sobre o clima e os congestionamentos, queria ter o direito de ficar em silêncio.

Até em avião o silêncio anda difícil. Outro dia estava no fim de um romance policial. A mocinha do meu lado sorriu:

– Esse livro deve ser bom. Está lendo com tanta atenção.

– É, sim.

– Também adoro ler.

– Ótimo.

– Qual é o título, deixa ver?

Aterrissamos sem que eu conseguisse descobrir o assassino!

Elevador, nem se fala! Entro, um grupinho está conversando. O mais animado conta uma piada horrenda. Todos às gargalhadas. Olham para mim, confraternizando, querendo que eu ria! Continuo sério. Todos me observam, com antipatia. Como se fosse o conde Drácula. Isso quando não há dois ou três grupinhos animados!

Cortar cabelo é o caos. Sou obrigado a tirar os óculos. Não dá para fingir que estou lendo. O cabeleireiro conversa comigo olhando para o espelho. Para enxergar minha reação. Mas é estranho falar com alguém através do espelho. Adora falar sobre o casamento e comentar as aventuras amorosas do outro cabeleireiro ao lado. Fala alto, para o outro ouvir, na minha orelha! Fofoca:

– Ele está apaixonado.

– Não estou não, só quero farra! – grita o outro, tesourando os cabelos do cliente.

A conversa continua.

– No fim de semana vou para minha cidade, em Minas.

Por aí segue... Faz um relatório sobre sua vida afetiva, familiar e geográfica.

Pior ainda quando o massagista resolve conversar. Estou esticado, pronto para entrar no nirvana. Ele começa:

– Tem ido para o Rio?

Ou:

– Comi um doce de mamão verde que você nem imagina...

– Ahn, ahn.

No final, estou mais exausto do que quando começou. Só de ouvir. Ele comenta:

– Não costumo falar durante a massagem, mas o papo estava ótimo!

Socorro! E pessoas desconhecidas que puxam conversa pelo telefone? Ligo para um conhecido. A secretária atende.

– Sabe que outro dia estava pensando no senhor? Faz tempo que não telefona. Estava viajando?

– Não, é que ando sem tempo.

– Ah, eu também estou numa correria...

Fala da família. Dos filhos, do custo de vida...

As pessoas parecem ter horror ao silêncio. Mas em certos momentos é bom ficar quieto, meditar sobre a vida, deixar os pensamentos correrem. Às vezes, penso que, assim como existem placas de "É proibido fumar", em alguns lugares, poderia haver as de "É proibido falar". Um amigo me lembrou de uma frase atribuída a Tom Jobim. Foi ao barbeiro (naquele tempo era barbeiro), que perguntou:

– Como quer o corte?

E o Tom:

– Sem papo!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Excessos, fanatismo e obsessão


O título já diz tudo e, embora sejam três palavras, para mim estão muito próximas, se não forem sinônimos.
Ao longo de toda minha vida, eu tenho aprendido que buscar o caminho do meio é sempre a melhor saída seja lá para o que for. No meu caso, variando entre extremos tão opostos, trilhar o caminho do meio não é nada fácil, mas tenho percebido que o meio-termo não é fácil para ninguém.
O limite entre o que é considerado "normal" e "aceitável" para o comportamento fanático ou obsessivo é muito subjetivo, sendo assim, se torna ainda mais difícil sabermos se passamos ou não da linha.
Por conta da bipolaridade, eu mesma acabei me impondo limites de forma que eu pudesse identificar com mais facilidade caso eu estivesse indo para o lado de cima ou de baixo e acredito que isso tenha me proporcionado uma certa habilidade para detectar pessoas que tenham um comportamento que beire o extremo, assim, eu posso tratar de me afastar o quanto antes.
Recentemente, me envolvi em um mal-entendido com um colega de classe por conta de religião. Logo eu, que sou uma pessoa que tem amigos de quase todas as religiões, me pego agora sendo chamada de anti-Cristo por um senhor fanático que se diz cristão. Descobri também que, além de fanático, é conspiracionista, o que me faz querer manter uma distância ainda maior de sua pessoa.
Eu não costumo me envolver em briguinhas e quando isso acontece, eu procuro desfazer o nó o quanto antes, pois se tem uma coisa que não gosto, é pensar que existe alguém que fica me enviando vibrações negativas e criando um mal-estar toda vez que me vê.
Caramba, sou uma pessoa tão legal e você que tá lendo esse post, com certeza sabe disso. Não me lembro de ter tido um único inimigo em toda minha vida, e embora a palavra soe forte e dramática, é exatamente isso que o tal senhor vê em mim: um inimigo.
Tudo começou por conta de um comentário meu a respeito das citações do tal colega. Eu curso Letras, não Teologia, mas grande parte dos alunos do meu curso é Evangélica. Até ai, tudo bem, porque a religião deveria pouco importar quando o assunto é educação. O colega em questão tem o hábito de usar citações da Bíblia em todas as suas postagens, citações que não tem nada a ver com o tema proposto. Eu, na maior inocência, comentei que ele estaria fugindo do tema e que o excesso de citações do Evangelho, deixava seus comentários previsíveis.
Para que, né? Agora, ele publica em todos os fóruns que apesar dos odiadores do livro sagrado de plantão (leia-se moi )ele irá continuar defendendo a Bíblia, pois graças a ela que seu casamento "flutua" ( palavras dele) há 24 anos. Será então, que se não fosse pela Bíblia, ele iria espancar a mulher? Porque eu acredito que nossas atitudes devem ser norteadas pelo bom senso, não por um livro. Se for assim, ele está dizendo que no fundo ele não presta, que precisa de alguém lhe dizendo o tempo todo o que é correto. Eu me pergunto quando foi que eu disse que era anti-Cristo ou anti-Bíblia! Que saco!
Eu, vendo que a polêmica não teria fim, tratei de me desculpar humildemente, quase uma humilhação pública e agora pergunto a vocês se o espírito Cristão dele já me perdoou ( a resposta é NÃO!). Além de não perdoar minhas palavras, ele continua fazendo minha caveira como anti-Cristo, ignorante, e otras cositas mas.
Ah, não bastando, ele publica em um fórum de faculdade que existe uma grande conspiração desde 1776 e que hoje é formada pelas grandes multinacionais, que tem como objetivo EXTERMINAR uma fatia da população, mas que nós, ignorantes, desconhecemos porque estamos ocupados demais com nossos valores vazios e superficiais.
Onde foi que fui me meter???? Ele ainda afirmou em um outro fórum que já foi agressor e que agora está do lado de Jesus. Como ele já tem uma certa idade e é argentino, fico imaginando se ele não é um ex-torturador exilado... Ao menos vocês já sabem, que se algo me acontecer, já teremos um suspeito, rs...
Apesar do tom de brincadeira, pessoas como ele me assustam d everdade, porque são esses fanáticos que se explodem, matam milhares em nome de um Deus que duvido queira ter alguma coisa a ver com isso.
Cadê a compaixão? Cadê o "amai-vos uns aos outros como eu vos amei"?
Enfim, vamos torcer para que ele não ache isso aqui, né? Mas eu duvido muito.
Aliás, eu não tenho mesmo nada contra ninguém, só contra os fanáticos, extremistas, obsessivos, não necessariamente nesta mesma ordem.