sexta-feira, 26 de setembro de 2008

VANISHING


Crying on my own
I’m disappearing
Slowly vanishing
Nobody sees me
They haven’t seen me for a while
And then my body is fading
My mind keeps going on
What for?

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

MAR


Costumava sonhar, como todo mundo. Ao menos achava que fosse como todo mundo, mas sentia que havia alguma coisa de diferente a respeito de meus sonhos. Ninguém entenderia, afinal, ninguém sonhava como eu. Passei a vida tentando descobrir se havia algum propósito ou significado nisso tudo. Cheguei a pensar que talvez tivesse o poder de prever o futuro, mas a verdade é que meus sonhos nunca me disseram nada claramente e ninguém parecia se interessar por eles de qualquer jeito.
Alguns eram intensos e reais demais para serem apenas sonhos comuns. Não é possível que ninguém mais sonhasse da mesma forma. Havia sonhos recorrentes e sonhos com continuação, como uma estória e ainda aqueles que pareciam iguais, mas mudavam a cada noite.
Passei a dormir cada vez mais na tentativa de entender aquilo tudo e parecia em vão. Não aprendia nada e nada mudava também, no entanto, de tanto me dedicar a sonhar, comecei a perceber certas tendências: Eles nada diziam a não ser sobre mim. Que egoísmo e narcisismo seria então me trancar num mundo onde só eu importo e tudo gira a meu redor. Quando conseguisse finalmente me entender ou me encontrar, seria tarde demais para viver, pois provavelmente teria passado a vida inteira nessa busca a não ser que descobrisse algo novo de fato,algo revelador.
Sonhava como mar frequentemente. “Sonhar com o mar: estará envolvida em uma grande mudança em breve. Pode significar grande aventura amorosa.” Não,nada disso,no meu caso,sonhar com o mar significava que não sabia de muita coisa e que provavelmente estaria envolvida em grande conflito interno.Não era um mar qualquer,era uma mar enorme,com grandes ondas que não quebram,mas te engolem num dia cinza e você não consegue mais sair. Sonhar com o mar grande é sempre cinza e frio e solitário, não importa quantas mais pessoas estejam lá. Olhava para o mar sempre com muito respeito pois sabia que não podia com ele e não importa o sonho,toda vez que havia o mar grande,sentia um aperto no peito quando acordava,como se soubesse que algo ruim estivesse para acontecer.O último em especial: havia levado meus avós à praia mesmo tendo consciência que meu avô estaria morto há muito e que minha avó não morria de amores por ele,ainda assim,estavam felizes em tons de preto,branco e cinza.Estava frio como de costume,mas ele simplesmente a pegou pela mão e a levou para o mar.Eu nada fiz,só olhei como se nada pudesse fazer,mas dado um certo tempo,me desesperei pois eles nunca mais voltaram e me senti culpada por não ter feito nada.Chorei e acordei com aquela sensação de que se algo de fato acontecer com a minha avó vou me sentir culpada de alguma forma.Ridículo!Pela ordem natural das coisas é mesmo capaz que em breve ela não esteja mais aqui e que eu nada possa fazer, mas a simples idéia de perder alguém que se ama é de fato assustadora,pior ainda,perder para o mar grande me dá a sensação de que eu nada poderia fazer mesmo,não á o que se fazer à respeito do mar grande.Talvez seja isso,talvez o mar seja a vida que é tão enorme que parece nos engolir às vezes,nos mostrando que não temos controle.Não sei.Sei que foi triste e que ele é maior que eu.Imponente.Algo com o qual não posso lidar.Por muitas vezes fui eu quem estava nas ondas,sem conseguir sair.Problemas de certo.Não posso deixar de pensar que talvez a hora da minha avó ir para o mar esteja próxima e simplesmente essa sensação de impotência diante dos fatos óbvios da vida só sirva para me mostrar que eu não sei como lidar com essas coisas tão maiores que nós.Ilusão achar que dormindo descobrira um jeito de burlar certas leis. Ao menos,foi um lindo sonho.Ela estava finalmente feliz,ou assim eu gostaria.

Amy


I cheated myself
Like I knew I would
I told you I was trouble
You know that I'm no good

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

FOCO


O foco está aqui
Me foca nos olhos
Eu não focalizo
Fico perdida
No tempo e no espaço
Sem foco
Sem disciplina
E com a displicência que só o foco tem
Tenta me convencer de que sou alguém
No centro de algum universo
Eu não sou eu
Eu sou o avesso
Passo por ele também
E por fim,desapareço
Diante das lentes descrentes
Que instem em me encontrar
Só para que eu possa me olhar
E lembrar que já não sou mais
Na verdade nunca fui
Nem tão concentrada nem tão inteligente
Sou mais uma
Não sou diferente.
(By me)

domingo, 21 de setembro de 2008

O Gato


"gato é uma maquininha
que a natureza inventou;
tem pêlo, bigode, unhas
e dentro tem um motor.

Mas um motor diferente
desses que tem nos bonecos
porque o motor do gato
não é um motor elétrico.

É um motor afetivo
que bate em seu coração
por isso ele faz ron-ron
para mostrar gratidão.

No passado se dizia
que esse ron-ron tão doce
era causa de alergia
pra quem sofria de tosse.

Tudo bobagem, despeito,
calúnias contra o bichinho:
esse ron-ron em seu peito
não é doença - é carinho"


Adriana calcanhoto

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Bem No Fundo

Bem no Fundo


No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
(Paulo Leminski)

Be Happy


"Dance like nobody's watching; love like you've never been hurt. Sing like nobody's listening; live like it's heaven on earth."

domingo, 14 de setembro de 2008

Normose


Entrevista do professor Hermógenes, 86 anos, sobre uma palavra inventada por ele que me pareceu muito procedente: ele disse que o ser humano está sofrendo de normose, a doença de ser normal.
Todo mundo quer se encaixar num padrão. Só que o padrão propagado não é exatamente fácil de alcançar.
O sujeito 'normal' é magro, alegre, belo, sociável, e bem-sucedido. Bebe socialmente, está de bem com a vida, não pode parecer de forma alguma que está passando por algum problema.
Quem não se 'normaliza', quem não se encaixa nesses padrões, acaba adoecendo.
A angústia de não ser o que os outros esperam de nós gera bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de não enquadramento.
A pergunta a ser feita é: quem espera o quê de nós? Quem são esses ditadores de comportamento a quem estamos outorgando tanto poder sobre nossas vidas? Eles não existem.
Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo que você seja assim ou assado.
Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha 'presença' através de modelos de comportamento amplamente divulgados. Só que não existe lei que obrigue você a ser do mesmo jeito que todos, seja lá quem for todos. Melhor se preocupar em ser você mesmo.
A normose não é brincadeira. Ela estimula a inveja, a auto-depreciação e a ânsia de querer o que não se precisa.
Você precisa de quantos pares de sapato? Comparecer em quantas festas por mês?
Pesar quantos quilos até o verão chegar? Freqüentar terapeuta para bater papo?
Não é necessário fazer curso de nada para aprender a se desapegar de exigências fictícias.
Um pouco de auto-estima basta.
Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem todas as regras bovinamente, e sim, aquelas que desenvolveram personalidade própria e arcaram com os riscos de viver uma vida a seu modo.
Criaram o seu 'normal' e jogaram fora a fórmula, não patentearam, não passaram adiante.
O normal de cada um tem que ser original. Não adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros.
É fraude. E uma vida fraudulenta faz sofrer demais. Eu simpatizo cada vez mais com aqueles que lutam para remover obstáculos mentais e emocionais, e a viver de forma mais íntegra, simples e sincera.
Para mim são os verdadeiros normais, porque não conseguem colocar máscaras ou simular situações.
Se parecem sofrer, é porque estão sofrendo. E se estão sorrindo, é porque a alma lhes é iluminada.

Por isso divulgo o alerta: a normose está doutrinando erradamente muitos homens e mulheres que poderiam, se quisessem, ser bem mais autênticos e felizes.
Principalmente mais felizes...