domingo, 7 de abril de 2013

A Íliada e o filme Helena de Tróia.


A complexidade dos poemas da Ilíada, juntamente com os comentários do tradutor, sugere que atos simples como uma conversa teriam levado muito mais tempo do que estamos acostumados nos dias de hoje.

A sensação que tenho é que talvez a Iliada tenha sido escrita de forma que o leitor pudesse perceber o tempo na mesma velocidade dos acontecimentos da epopéia. Conversas que parecem durar horas, batalhas que duraram anos e que muitas vezes foram decididas não pelos homens que lutavam, mas pelos deuses que interferiam a favor deste ou aquele povo.

A vaidade típica dos deuses nos dá a impressão de que os seres humanos são meros fantoches em suas mãos e o que é decido no Olimpo deve ser acatado em terra, como se nossa existência aqui fosse um entretenimento para eles.

Notamos também que aos filhos de deuses são conferidas certas habilidades para diferenciá-los de mortais comuns, como Aquiles que além de armas confeccionadas por Hefesto era capaz de espantar os Troianos com seu grito possante.

Acredito que o uso de palavras diferentes como referência a um mesmo objeto torne a leitura dos poemas um pouco confusa, além do próprio Português que é muito rebuscado, o que dificulta o entendimento por parte de quem não está acostumado com este tipo de linguagem.

A idéia de transformar um texto clássico em filme é sempre polêmica, pois sabemos que grandes obras sempre têm sua complexidade comprometida em função da linguagem e do tempo típicos do cinema. Apesar de muitas vezes serem omitidos eventos importantes da história original, os filmes costumam manter a essência da trama e o mesmo acontece com a Ilíada de Homero e o filme Helena de Tróia: apesar de todas as diferenças, qualquer um é capaz de citar o básico, que é o fato de Paris, filho de Príamo, ter raptado Helena, esposa de Menelau e deste episódio ter gerado a guerra entre gregos e troianos e as semelhanças param por ai. O filme não proporciona a noção de tempo em que as coisas teriam acontecido na Ilíada, porque no cinema a velocidade e a noção de tempo são diferentes. Embora o narrador do filme mencione que a guerra durou dez anos, temos a impressão que tudo aconteceu em muito menos tempo, sem contar a falta de caracterização de muitos personagens que apesar de estarem lutando há uma década, pareciam não ter envelhecido de acordo. Heitor, por exemplo, não se casa nem tem filhos, ao contrário do que ocorre no texto original.

O filme também foca muito mais os eventos anteriores à guerra, como a vida de Helena, a falta de caráter de Agamêmnon, deixando de lado o grande o personagem principal da Ilíada que é Aquiles. No filme, Aquiles é retratado como um guerreiro sanguinário, sem valores nobres. Sua ira não teria motivo algum a não ser sua sede de sangue, enquanto no texto original ele é a encarnação dos valores gregos ideais para a época em que foi escrito.

Na Ilíada os deuses incitam gregos e troianos à guerra e participam ativamente das batalhas, no filme eles são apenas coadjuvantes mencionados eventualmente.

Outro equívoco bastante comum é o que acontece com o famoso episódio conhecido como Cavalo de Tróia, que embora tenha ocorrido durante a guerra de Tróia, não é mencionado na Ilíada. O cavalo, estratagema dos gregos que culminou no fim de Tróia, é mencionado na obra posterior à Ilíada, a Odisséia, história que narra a aventura de Odisseu em seu retorno à Ítaca e conta com flasbacks da guerra, onde o cavalo é mencionado brevemente.

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