segunda-feira, 10 de maio de 2010

O fim





Ouvindo the Doors no carro. Trânsito caótico e uma viatura parada na minha frente. Aquelas luzes vermelhas piscando prendem minha atenção e "The End" começa a tocar. Entro em transe, literalmente.
Toda vez que ouço esta música, eu automaticamente viajo no tempo, uns 18 anos no passado:
- Dani, sabe porque eu tenho estas caixas de som embaixo da cama?
A Ana me pergunta ao notar meu espanto ao ouvir a voz do Jim Morrison saindo debaixo da cama dela.
- Eu durmo com ele todos os dias. Somos casados. Deita aí, ouve o Jim.
Me deitei na cama dela, fechei os olhos e Jim Morrison estava lá, cantando ao pé do meu ouvido. Ela tinha caixas de som enormes embaixo da cama e a experiência foi incrível.
"The End" por si só já é uma viagem, de ácido, imagino. O Jim era chegado em Mescalina... Bom, ele era chegado em todas elas.
Volto a viajar. Desta vez estou com um ex-namorado que era vocalista de uma banda de Rock. Eu tenho 15 anos e ele 22.
- Vamos no ensaio de uns amigos meus?
- Tá. O que eles tocam?
- The Doors.
- Vamos.
Chegando ao estúdio eu me sentia toda importante por namorar alguém tão popular na turma ( bom ,turma que na época era o pessoalzinho "underground" que ficava no café Atlântico). Se eu contasse aos meus amigos, todos ficariam com inveja. Eu era a única menina no ambiente. Os músicos, assim como meu namorado, eram mais velhos.
Começaram a tocar "The End" e era a primeira vez que ouvia aquela música. Do meu lado direito, meu namorado escrevia uma música para mim e do lado esquerdo, um rapaz esquentava uma colher de alumínio com um pó branco dentro. No fundo da sala,um outro rapaz preparava uma seringa. Eu nunca havia presenciado uma cena parecida até então.
- Você quer?
E antes que eu pudesse dizer não, meu namorado respondeu:
- NÃO! Ela não quer. Estamos indo embora.
Sempre penso que se tivesse feito escolhas diferentes, não estaria aqui agora. Drogas sempre estiveram ao alcance das mãos. Meu namorado não era exemplo para ninguém, mas era super protetor comigo. Não me deixava beber nem cerveja.
Anos depois, ele foi preso por tráfico de drogas e embora eu soubesse que era usuário, ele nunca fez nada em minha presença.
Penso no Jim novamente. Visitei seu túmulo em Paris com a Ana. Dá uma tristeza pensar em toda a vida que ele tinha pela frente.
Vinte e sete anos. Idade fatídica que também levou Janis Joplin, Jimi Hendrix e Curt Cobain.
Aos 27 eu já havia sido diagnosticada como Bipolar e naquele ano tive crises bem intensas. Se tivesse embarcado na mesma onda que alguns de meus ídolos, com certeza não teria chegado aos 30.
O trânsito andou.
" The blue bus... is calling us"
" Driver, where are you taking us?"
" Ride the snake... Ride the snake..."
Acorda Alice!
A viagem foi quase lisérgica e tudo que precisei foi de uma boa música!

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