terça-feira, 30 de março de 2010

Bolinhas


Este texto já é velhinho, mas em homenagem à minha amiga resolvi postá-lo.

Eliana chamava atenção na faculdade não só por sua beleza, mas por sua inteligência aguçada. Dona de longos cabelos negros e grandes olhos verdes se fazia notar por alunos e professores.
Quando as aulas recomeçaram, ela conheceu Leandro, seu professor de História Política: um moreno alto, de expressivos olhos castanhos.
No decorrer do ano, Eliana se esforçou ao máximo para não perder uma única aula. Entregou todos os trabalhos em dia e tirou boas notas em todas as provas. Aluna tão exemplar não passaria despercebida aos olhos de seu professor.
Com o tempo, começaram a conversar nos intervalos das aulas, trocaram e-mails sobre trabalhos, livros e tudo mais que tivesse a ver com a matéria.
Certa noite, Eliana combinou com as amigas de irem a um barzinho. Ela e Manú chegaram juntas. Em seguida chegaram Ana, Júlia e Vanessa. Todas vestidas para “matar”, com maquiagem e cabelos que instigavam o pecado. Pouco tempo depois de começarem a beber, notaram alguém familiar numa mesa próxima: era o professor.
Na hora que se seguiu, Eliana não conseguia tirar os olhos de Leandro e percebeu que ele também não tirava os olhos dela. Parecia surpreso de vê-la tão produzida e se fosse possível, ainda mais bonita do que costumava estar na faculdade.
Nas aulas seguintes, ficou óbvia a tensão sexual que havia entre os dois, mas ninguém falava a respeito. Os e-mails se tornaram mais pessoais e foi num desses e-mails que Leandro contou à aluna que após fim das aulas ele se mudaria para Brasília para trabalhar no Itamaraty. Seu último evento na faculdade seria como palestrante no congresso que haveria no encerramento do ano letivo.
Eliana chorou de desespero e de orgulho ao mesmo tempo. Sempre sonhara em trabalhar no Itamaraty, mas sabia que era para poucos.
Nos últimos meses antes do fim das aulas, Eliana começou a traçar um plano para seduzir seu professor. Combinaram que conversariam sobre sua ida ao Itamaraty depois do evento. Ele sabia do interesse da aluna em estudar diplomacia em Brasília, então concordou prontamente em encontrá-la após o congresso.
O dia tão esperado chegou. Eliana estava linda, mas não muito insinuante para não entregar suas intenções.
Terminada a palestra, eles se encontraram e por sugestão dele, foram a um restaurante. Durante o jantar, trocaram confidências e Leandro acabou deixando escapar que há muito pensava em sua aluna, mas que por questões éticas, achou mais apropriado não se manifestar. Contou que desde o dia que a vira no bar, não a tirava da cabeça e ao combinarem de jantar pensou que seria o momento certo para se conhecerem melhor, já que não seria mais seu professor. O clima esquentou e na saída do restaurante acabaram trocando beijos ardentes.
Decidiram ir a um motel. Eliana não se continha de felicidade. No caminho, Leandro confessou que a achava perfeita, que ao longo do ano não conseguira notar um único defeito em sua personalidade. Ela se sentiu lisonjeada e comentou que de fato, suas amigas sempre diziam que ela era a mais equilibrada da turma, a mais calma, enfim, ela era praticamente a perfeição encarnada.
Chegando ao motel, trocaram carícias e beijos até que Leandro começou a se despir, revelando uma linda cueca samba-canção de cetim, preta de bolinhas brancas. Eliana não se conteve e gritou:
—Nãoooooo!Bolinhas não!
A menina se pôs a chorar convulsivamente e deixou o quarto correndo, sem nem olhar para trás.
Leandro, coitado, sem nada entender chegou a achar que tinha alguma coisa errada com sua aparência. Embarcou no dia seguinte para Brasília e nunca mais soube de sua aluna.
Eliana por sua vez, começou a fazer terapia para se livrar da fobia de bolinhas. Nunca entendeu seu medo de bolinhas e também não comentava com ninguém sobre sua aflição cada vez que via ervilhas, sagu ou qualquer coisa que envolvesse formas arredondadas aglutinadas.
Se Leandro soubesse disso antes, perceberia que perfeição era uma palavra forte para definir a moça. Como dizem por ai: “De perto ninguém é normal”, nem mesmo a Eliana!

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