segunda-feira, 16 de julho de 2007

A MORTA DO 7º ANDAR


Era o 7ºandar, mas equivalente ao 8º pavimento.Ela pulou.

Dizem que quando se pula para a morte você vê sua vida passando tudo de novo e se arrepende.Tenta voltar.Ouviu dizer que a menina que se jogou lá do prédio do centro da cidade tentou ainda segurar na janela.Só ficaram as marcas das unhas.

Se você sabe que vai se arrepender, por que pular?Ora, por que ficar parece ainda muito pior.

Enquanto caia viu sua vida passar diante dos olhos.Não se arrependeu, mas também, ninguém saberia.Talvez fossem dizer que também ela se arrependeu quando pulou.Quem poderia saber?Não se arrependeu.Ela voou e pela primeira vez se sentiu livre.

O vento batendo eu seu rosto naquela velocidade dava um ar de aventura à sua morte.

Caia uma chuvinha fina.Não havia ninguém na rua.Era muito tarde, madrugada.Tudo parecia poético até.Do jeito que sempre imaginou.Não se arrependeu, por nenhum segundo porque só ela sabia que não havia outra saída.A vida há muito se tornara uma tortura diária e a morte seria no mínimo, uma novidade.Uma bem-vinda novidade.

Por anos pensou no trauma que causaria aos vizinhos e entes queridos ao verem seus miolos estatelados no meio da rua, mas cansou de pensar nisso, afinal, também por anos esperou que alguém lhe tirasse esta idéia da cabeça e ninguém o fez.

No dia do seu enterro, muita gente chorava.Algumas pessoas pareciam tão inconformadas com a situação!Patético!Ela havia dado sinais claros de que isso poderia acontecer e ainda assim, ninguém estava do seu lado para impedir que pulasse.

Na verdade achava que tudo era uma tremenda hipocrisia: as pessoas choravam para que as outras pessoas as vissem chorar assim pareceriam mais humanas e preocupadas com a morta.

A realidade era bem outra: dias depois a vida já voltava ao normal, como se ela nunca tivesse existido, o que só comprovou sua teoria de que ela não fazia mesmo a menor diferença e assim sendo, não havia razão para continuar vivendo.

A vida seguiu seu curso e todos ficaram felizes como já eram antes.Qual era mesmo o nome dela?

Se tivessem lhe dado atenção ela estaria viva, mas daí ,isso também não faria a menor diferença e não teríamos uma estória pra contar,afinal,finais felizes já não estão mais na moda....

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